Acordes de Minas na Sinfonia Psicanalítica

A importância das construções desses autores pode ser dimensionada pela afirmação de Freud de que a Psicanálise se constitui como o terceiro golpe sobre o narcisismo humano ao criar o conceito de inconsciente e mostrar que o ego não é o senhor de sua própria casa. Os dois primeiros golpes ao narcisismo seriam o heliocentrismo de Copérnico seguido da hipótese revolucionária de Darwin. A Terra não é o centro do mundo: é poeira cósmica. O homem não é imagem e semelhança de Deus: é um ser em evolução. Não somos nem mesmo donos de nós mesmos. Sabedores desta realidade seguimos investigando a mente humana.

         O psicanalista carioca José Carlos Guedes escreveu algo que encantou e intrigou nossa alma mineira:

O inconsciente é mineiro,
pois trabalha em silêncio.
Além disso, ao se mostrar,
cuida para ser bem peculiar

          Esta edição de nossa RMP propõe-se justamente a mostrar a forma cuidadosa e peculiar de psicanalistas mineiros (de nascimento ou de alma) verem e sentirem seus inspiradores clássicos. Consciente e inconscientemente nós, mineiros, saímos do silêncio e oferecemos acordes especiais da Psicanálise. Nesta edição ouviremos as sinfonias:

–  Sigmund Freud, por Marília Botinha;
–  Melaine Klein, por Lídia Magnino e Marta Úrsula;
–  Donald Winnicott, por Sérgio Kehdy;
–  Wilfred Bion, por Gisèle Brito;
–  Jacques Lacan, por Leonardo Francischelli;
–  Esther Bick, por Rosa Lang.

Sérgio, Marília e Gisèle são maestro e maestrinas de nossa SBPMG em suas respectivas  sinfônicas. Lídia, também mineira, se faz acompanhar de Marta e juntas trazem o sotaque da SBPSP para nosso encontro. Francischelli, parceiro desde os primórdios de nossa Sociedade, contribui com os acordes do Sul e Rosa, embora carioca, já tem alma quase mineira.

         A profundidade da Psicanálise de nossa Minas Gerais é fruto de longo e intenso trabalho. Foi com muita dedicação e entrega pessoal que o Dr. Sebastião Salim, junto a outros colegas, começou a escrever nossa ímpar história. Nesta edição Salim, formado em 1963 pela Faculdade de Medicina da UFMG, nos conta seu trabalho incessante e despojado para a constituição de nossa SBPMG.

          A Psicanálise mineira se atualiza. Traz as ideias clássicas para a contemporaneidade, tendo também como parceira a arte. Nosso “Cinema e Psicanálise” tem extrapolado montanhas e muros e em nossa revista tem seu cantinho próprio. Esta edição traz reflexões de Lucas Santos sobre o filme “The Wall” (Pink Floyd) acompanhadas por consistente exercício psicanalítico relativo a aspectos complexos da clínica do borderline, clínica cada vez mais presente em nossos consultórios. Sintam o gostinho desta leitura: “Medo faz você defensivo e quando você está defensivo, você começa a construir muros”.

          Os Candidatos de nossa SBPMG contam com um espaço em nossa revista para que mantenham e desenvolvam o hábito da escrita. Nesta edição estão representados por Regiana Rodrigues que nos presenteia com uma interlocução entre o trabalho de observação da relação mãe-bebê e a clínica psicanalítica.

         O cantinho dos candidatos extrapolou as fronteiras mineiras. Contamos, também, com Patrícia Coppola candidata que, embora mineira, faz sua formação na SBPSP. Que a hospitalidade mineira receba sempre contribuições de outras sociedades!

         Nossa SBPMG iniciou este ano a Formação da Infância e Adolescência. O interesse por essa área entre nós já está presente de forma consistente e os artigos das duas candidatas demonstram isso.

        Regiana fala da observação de bebês e Patrícia descreve um atendimento infantil de criança autista. O tema se aprofunda com Cristina Dias e Daniela Landim no artigo O estranho impacto da observação: inconfidências do grupo de observação de bebês. Nossa revista vai dialogando com essa nova formação.

         Embora amante da frase de Guedes não posso garantir que o inconsciente seja mineiro, mas posso convidar todos vocês a se deleitarem com a visão mineira de uma potente Psicanálise. Acordes mineiros estão no ar… Que bela sinfonia!

Sandra Bulhões Cecilio
Editora