Carta-Convite

Carta-convite: Técnica

“O alvo da minha pintura é o sentimento. Para mim, a técnica é meramente um meio. Porém, um meio indispensável.”
Candido Portinari

“A complexidade da situação analítica é tal que poucas vezes podem se propor regras fixas. Na práxis analítica, a única receita válida, frente a uma situação dada, é comparar e contrastar todos os elementos de juízo disponíveis e escolher depois o caminho que nos parecer mais conveniente, sabendo que cada momento é irrepetível e incomparável. Não pode haver, por certo, uma práxis que não se sustente na teoria e nenhum psicanalista duvida que haja um caminho de ida e volta entre teoria e prática, que uma realimenta, enriquece e depura a outra; mas tenho, além disso, a viva impressão, embora talvez me equivoque, de que, se partirmos da prática, poderemos abordar melhor os problemas teóricos do que quando estudamos e comparamos as teorias entre si.”
R. Horácio Etchegoyen, Fundamentos da Técnica Psicanalítica

            Em vários momentos Freud fazia questão de se referir à psicanálise como método. Um método, por óbvio, supõe uma práxis, que por consequência supõe uma técnica. Ele mesmo dedicou vários artigos ao tema, principalmente entre 1911 e 1915.

            Sabemos, com o mesmo Freud, que a “invenção” da técnica analítica não foi um processo organizado. Partindo do atendimento médico do fim do século XIX, onde não se ouviam os pacientes, passando pelo espetáculo da hipnose, pela aplicação de pressão, até a criação de sua “regra de ouro”, um longo percurso foi traçado. Alguns detalhes que nasceram do que poderíamos chamar de preferências, como a disposição de costas, de forma a estar fora do campo de visão dos pacientes, hoje se tornaram pilares do ofício.

            A partir de então, o circuito das mudanças técnicas variou muito, e pouco, ao mesmo tempo. Descobertas posteriores a respeito do trabalho com a transferência, o atendimento de crianças e adolescentes; a acolhida para dentro da psicanálise das patologias antes consideradas não-analisáveis, como a psicose; a descoberta da contratransferência; dentre outras tantas. O campo analítico foi ampliado e, consequentemente, a técnica passou por variações.

            Também as mudanças no ritmo de vida e na sociedade trouxeram questões para o trabalho do analista. Enquanto Freud via seus pacientes 5 ou 6 vezes por semana, hoje muitos analistas encontram dificuldade na manutenção da alta frequência e, inclusive, questionam sua validade. A análise teria se tornado cara, ou custosa de tempo, e as pessoas não teriam mais disponibilidade para esse tipo de trabalho. Outros questionam que esse fator, justamente, é prova da necessidade da manutenção da análise como tal, como enfrentamento a um tipo de avalanche massificante da contemporaneidade.

            De qualquer forma, são as discussões em torno desse tema, antigo e novo ao mesmo tempo, que nos interessam. Desejamos que os autores se sintam instigados a trazerem suas discussões adiante, propondo ideias e conversas necessárias.

O prazo para envio dos artigos será até o dia 21 de Julho de 2024. As normas de publicação se encontram no site da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Minas Gerais (sbpmg.org.br). As propostas devem ser enviadas para o endereço de e-mail sbpmg@uol.com.br  ou rmp.sbpmg@gmail.com

Leonardo Siqueira Araújo
Editor

Conselho Editorial da Revista Mineira de Psicanálise
Maria Goretti Machado
Kátia Maria Amaral dos Santos
Cecilia Cruvinel Colmanetti