Papéis em psicanálise: cena pública e cena privada

Volume 8 2025

Editorial

Editorial

Papéis em Psicanálise: Cena pública e cena privada

“O sujeito está em constante formação, e sua personalidade é uma combinação de vários papéis que ele desempenha em relação ao outro, especialmente as identificações com os pais. Esses ‘papéis’ não são estáticos, mas refletem os desejos e repressões inconscientes do sujeito.”
–Sigmund Freud, O Ego e o Id (1923).

O teatro é uma representação da existência humana, onde os personagens não são mais do que máscaras que os sujeitos usam para escapar da autenticidade de seu próprio ser. A psicanálise, por sua vez, busca revelar essas máscaras e levar o sujeito de volta à sua essência.”
–Sartre, O Ser e o Nada (1943).

A psicanálise se serve do teatro, tanto metaforicamente quanto literalmente, desde seus primórdios. Freud era um grande apreciador, fazendo uso de obras compreendendo a tragédia grega, Shakespeare, entre vários outros. Neste novo volume da Revista Mineira de Psicanálise, desejamos privilegiar um conceito advindo dessa figura: a ideia de Papéis, considerando suas mais diversas bifurcações.

Considerando a noção de uma “cena privada”, pensamos, por exemplo, no drama central da teoria psicanalítica: a cena edípica. Cena essa na qual processos absolutamente vitais para o desenvolvimento psíquico se desenrolam. Nos questionamos se os entendimentos em torno deste drama permanecem os mesmos e, caso não, de que forma podem ser estudados à luz dos posteriores desenvolvimentos teóricos e clínicos dos últimos cem anos.

Em conexão com essa ideia, pensamos também sobre o conceito de imagem e de representação, compreendendo a ideia de papel a partir de aspectos da personalidade, ou do ego. Aqui são possíveis inúmeras considerações, tanto metapsicológica quanto clínicas, que são absolutamente interessantes. Os analisandos, à medida em que trazem seus conteúdos para o analista, também encenam uma espécie de teatro privado de suas fantasias, nas quais o pai, a mãe, os irmãos, os parceiros, todos tendem a representar certos papéis perante o inevitável narcisismo do sujeito. Podemos também considerar a cena peculiar da análise, seja nestes conteúdos subjetivos, seja também em seus aspectos mais estruturais, compreendendo o enquadre, o contrato, e seus derivados (tempo, dinheiro etc.).

Transitando um pouco entre a ideia de uma cena privada e uma cena pública, também podemos nos questionar em torno dos diversos papeis sociais, como mãe, pai, professor, homem, mulher, família, sociedade… ao mesmo tempo em que representam papéis dentro de uma cultura, sabemos, na longa tradição analítica, do quanto a cultura é também representação interna do sujeito, de maneira que essas duas cenas, privada e pública, interagem constantemente nos processos do funcionamento psíquico.

Finalmente, dentro da ideia de uma cena pública, tomamos a psicanálise enquanto parte de uma realidade externa. A psicanálise enquanto instituição (e suas instituições). Sabemos que junto de uma trajetória de desenvolvimento teórico também existe uma longa trajetória institucional, com suas complexidades, conflitos, avanços, retrocessos e impasses. Seja dentro da Associação Psicanalítica Internacional (IPA), seja dentro das diversas organizações voltadas ao estudo e desenvolvimento da psicanálise, de que forma compreendemos seus papeis? Também nos toca olhar para o lugar da psicanálise dentro da sociedade, e de que maneira esse papel varia ao longo do tempo.

Hoje a questão da psicanálise “extramuros” é bastante relevante, à medida em que vemos
diversas iniciativas de acesso ao tratamento psicanalítico florescerem ao redor do Brasil.
O tema se presta às mais variadas reflexões e contribuições. Assim, a Revista Mineira
de Psicanálise convida psicanalistas, membros em formação, acadêmicos e demais interessados
a contribuir com este próximo volume 8. Boa escrita!

Expediente
REVISTA MINEIRA DE PSICANÁLISE
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Minas Gerais – SBPMG
Filiada à International Psychoanalytical Association – IPA

Volume 8. 2025
ISSN Nº 2236-8973

Editor: Leonardo Siqueira Araújo (SBPMG)
Conselho Editorial:
Maria Goretti Machado (SBPMG)
Cecilia Cruvinel Colmanetti (SBPMG)

Revisão e Diagramação
Carina Souto

Secretária da SBPMG
Diana Ferreira