O funcionamento psíquico da neurose obsessiva (NO) – contribuições psicanalíticas

 

Por Maria Cristina Dias 

 

Os Congressos da IPA foram realizados primeiramente em 1908, por Freud e seus colaboradores. Desde então, acontecem regularmente, de dois em dois anos. Em 1965, realizou-se o primeiro congresso temático da IPA, o 24°, cujo tema foi “O tratamento psicanalítico da neurose obsessiva” (NO).

A NO está inserida no quadro das neuroses, sendo a mais regressiva. Na linha divisória do Abraham, ela se encontra entre a fase anal retentiva e a expulsiva. À fase anal retentiva equivale a neurose obsessiva. À fase anal expulsiva corresponde a paranoia. O neurótico obsessivo transita entre questões paranoides e melancólicas. Diz respeito à forma como ele lida com seus objetos; o que faz com o seu ódio e com a sua agressividade na relação consigo mesmo e com o outro.

O obsessivo é o sujeito da dúvida. A ambivalência da melancolia vai desaguar na psicose. O melancólico em crise não tem dúvida; porém, duvidar é importante, pois faz com que o neurótico obsessivo seja neurótico. Se ele fosse um psicótico não teria dúvida.

O cerne da teoria das neuroses é o conflito psíquico, constitutivo do ser humano, sendo o conflito nuclear o complexo de Édipo. O recalque é precário e falha na NO. Na estrutura obsessiva, a ideia incompatível recalcada é substituída por outra ideia através de uma “falsa conexão”. O psiquismo se organiza para lidar com o risco de o recalcado reaparecer. A angústia está sempre presente, o conflito se manifesta no pensamento e, aí, aprisiona o sujeito.

O pensamento obsessivo é calcado no pensamento religioso como pensamento mágico, onipotente, ao qual se atribui mais valor do que ele tem. Medo do desejo. Pensar ou desejar é como acontecer / realizar. O neurótico obsessivo cria rituais que anulam a ação do seu pensamento. Pode-se falar de rituais obsessivos como traços de caráter e rituais obsessivos extremamente limitantes.

O neurótico obsessivo busca tratamento quando o seu modo de lidar com o mundo fica distônico. Enquanto há sintonia, ego sintônico, ele não busca ajuda. Isso ocorre, geralmente, quando o sofrimento ultrapassa sua capacidade de lidar com ele, quando a doença está mais agravada, quando saiu do seu ‘controle’.