O analista e o paciente enlutado: subjetividade e psicodinâmica dos destinos de um luto

 

por Sandra Bulhões Cecilio

 

“Já nem sei há quantos dias eu choro.

 Nunca pensei ter tantas lágrimas para chorar tua partida,

 lágrimas que vêm em ondas devastadoras que arrastam tudo pelo caminho.

Fico nu e náufrago nessa sua agonia.

Você é um pedaço imenso do meu espírito, da minha ética, do meu amor pelos homens….”         LCC

 

 

I – Alguns tópicos

 

  • Tenho descoberto que o trabalho como analista é justamente vivermos a dinâmica dos lutos, realizando a beleza da ressurreição de nosso próprio eu enterrado (mudanças catastróficas).
  •     O paciente enlutado não é apenas aquele que perdeu um amor há pouco tempo. O paciente enlutado é todo paciente que nos procura em busca de ressuscitar seu próprio eu enterrado ou perdido em vários momentos de sua história…
  • Vamos fazendo lutos por tudo que um dia sonhamos, não fomos e nunca seremos e fazendo a ressurreição resplandecente de sonhos interrompidos, sonhos a serem desencapsulados ou sonhos nunca sonhados que podem achar espaços de liberdade para nascerem…
  • Que nossos lutos nos permitam ampliação dos recursos analíticos de cada um de nós e da própria psicanálise…
  • Bion me inspira: Vá sendo você mesma…

 

Vou me tornando viva quando sinto a liberdade de falar do que me toca as entranhas. Aprendi    e sigo com meus pacientes trabalhando as perdas e construindo a subjetividade do ser que posso ser hoje, com a dor do luto de tudo que não sei e não conheço, mas com fé no novo que pode vir a ser através de atos de busca (Atos de fé).

 

II- Trabalho do analista/paciente

 

q Irmos sendo companhias vivas na dor, mostrando (verdadeiramente) ao paciente que ele está sendo visto por alguém, escutado, abraçado psiquicamente.

q  Mostrando que ele não está só, tem companhia no silêncio e no vazio.

q  Irmos aceitando e catando as partes, catando cacos, juntando o pó, fazendo um trabalho de irmos criando voz, cor e poesia na dor. Portanto,   ir “CRIANDO COM”…

q Transformando… Transformando através dos lutos a gente mais próxima da gente mesmo…

q Sendo sempre menos do que desejamos (lutos e perdas…), mas entrando em contado com novas verdades criativas.

q  Lindamente construtores de nossa história única e eternamente sonhante…

 

 

 

Luto  =  Somatório de Experiências emocionais                  Luto   =     F (Perdas) ,

 

 Perdas= (dor+culpa+raiva+depressão)

 

Transformações com a dor:  Desorientação/ Torpor (sofrimento imensurável) / Negação/Isolamento/ Raiva/Barganha/Depressão/Sofrimento/ Culpa/Renascimento