Constituição do psiquismo, sexualidade e seus desdobramentos

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Texto por Marília Botinha.

 

Partindo de Freud, na constituição do psiquismo, temos como vivência fundamental a experiência de satisfação, onde num primeiro momento o bebê mama porque está com fome e, depois de saciado, continua a sugar, porque algo ocorre que traz prazer. Podemos pensar nessa experiência não só como fundante do funcionamento psíquico mas também como  uma  das primeiras estimulações sexuais. Sexual no sentido do corpo reagindo a um prazer que é impulso de vida. O bebê, desde seu nascimento, e, talvez, intrauterinamente, terá em sua superfície corporal um lugar de prazer ao toque, e, ajudado pelos órgãos dos sentidos, poderá experimentar estimulações que farão o psiquismo se desenvolver. Também se desenvolverão as varias áreas erógenas da criança. Levando em conta um dos principais textos de Freud, “Os três ensaios da teoria da sexualidade”, de 1905, podemos perceber ser este um trabalho especial, onde o autor, por mais de 20 anos, escreveu acréscimos, mostrando que esta pedra fundamental pôde ser completada com mais conhecimentos, à medida que a psicanálise também era construída.

A ideia da disposição perversa polimorfa, do autoerotismo, traz uma importante visão com relação ao desenvolvimento sexual e seus caminhos, assim como a descrição de que a pulsão sexual não tem um objeto definido. Tudo isso abre espaço para se entender o desenvolvimento da sexualidade.

Para Freud, a perversão receberia a denominação de patológica somente se esse comportamento fosse exclusivo e fixo. Assim, ele utiliza a ideia de perversão ligada a transgressão de objetivo e objetos relacionada à busca de satisfação da pulsão sexual, retirando, assim, a ideia de patologia, para se inscrever na dinâmica do funcionamento psíquico.

Ainda nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, Freud propõe a noção de bissexualidade, podendo ser esta física e psíquica no ser humano, advindo daí hipóteses sobre a constituição da identidade sexual. A ideia de diferenciação entre masculinidade e feminilidade estará relacionada ao complexo de castração, no caso dos meninos, e à inveja do pênis, com relação às meninas. Essa diferenciação só será evidente na puberdade, quando as zonas erógenas estarão integradas sobre o primado genital, estando essa zona biologicamente desenvolvida. As pulsões, nesse momento, estarão em plena busca de satisfação. Nessa época também ocorrerá uma revivência edípica com a consequente reelaboração do superego, tendo sido erigida a barreira contra o incesto e a escolha de um novo objeto amoroso. As fantasias incestuosas vividas durante a infância, durante as vivências pré-edípicas e edípicas, são superadas e Freud nos diz: “completa-se a mais dolorosa experiência puberal: o desligamento da autoridade dos pais”. Mas não podemos nos esquecer de que este percurso se faz de forma diferente entre meninos e meninas. Não me estenderei aqui em relação à teoria freudiana, mas temos que valorizar que seus postulados, sobretudo a ideia do perverso polimorfo, a bissexualidade e as identificações percebidas durante o processo edípico abrem espaço para pensarmos de forma mais ampla a sexualidade, as identificações e as diversidades. Este é um ponto que abre espaço para muitas reflexões e elaborações.