Se vocês querem, se lhes toca ser lacanianos, eu sou freudiano

Trata-se de um pequeno texto de amor. Amor de Lacan por Freud, que o leva a se insurgir contra o que ele denominou desvios dos caminhos, das vias abertas por Freud com o descobrimento do inconsciente. O mundo sai da segunda grande guerra, na década de quarenta/cinquenta, como se fosse uma primavera depois de tanto inverno. É nesse cenário que se apresentam três grandes maestros, todos inspirados em Freud: Bion, Lacan e Winnicott. Geograficamente separados pelo Canal da Mancha, claro está, por caminhos teóricos diferentes. Os da famosa ilha, contavam com a presença de Melanie Klein, autora de muitos conceitos psicanalítico, ainda vigentes. Função e campo da palavra e da linguagem em psicanálise, aquilo que poderíamos nomear como a carta de apresentação de Lacan no campo psicanalítico data de 1953, simultaneamente com seu primeiro seminário público – Os Escritos técnicos de Freud – se iniciam no mesmo ano como uma nova proposta de transmissão da teoria Psicanalítica. O último seminário dele foi em 1978/9 “A topologia dos tempos”. Além do que, contamos ainda, com os – Escritos -, primeira edição em francês é de 1966. Dispomos também, de novos – Escritos – que apareceram na França em 2001. O que tudo isso tem de comum com o meu breve artigo? Penso que nada, mas serve para uma pequena amostra da obra de Jacque Lacan que, nas palavras da Roudinesco, Tratou de introduzir a peste, a subversão e a desordem no coração deste freudismo atemperado do qual era contemporâneo, um freudismo que, depois de ter sobrevivido ao fascismo, tinha sabido adaptar-se à democracia até o ponto de não reconhecer mais a violência de suas origens.